sexta-feira, maio 20, 2011

O carteiro foi atrás de sonhos Encontados!!!

Publicamos o texto do Prof. José Manuel Teixeira (Escola Básica Vale Rosal) que, tal como nós, também sonhou trazer o Nicolás às suas salas de aula... e o sonho está quase a ser concretizado

Formação Encontos e Encontros -
28 Maio - 9 Junho



Histórias Para Mudar o Mundo
(Almada, Lisboa - 7, 8, 9 de Junho de 2011)

Os sonhos nascem, crescem, levantam-se e levam-nos aos ombros com eles. De alguma maneira eu quero ir sempre com eles. Tudo na vida depende do cuidado e da atenção que prestamos ao mistério que existe nas coisas, nas palavras, em nós… Se um rio corre, uma árvore cresce e uma flor se perfuma ao sol, isso é linguagem, poesia, olhos misteriosos olhando-nos por detrás do seu véu. Um dia ouvi Nicolás Buenaventura contar a história de um homem, Jacob, que contava histórias para mudar o mundo, olhos fechados, sentado numa praça, ninguém que o escutasse…Um dia, descobri que tinha um limoeiro no meu jardim que me contava histórias para mudar o mundo exactamente assim, em forma de limoeiro, sem limões, verídico, natural, incansável. Todas as histórias que ele me contava vinham preenchidas com silêncios, pausas, aromas frescos, sóis, chuvadas, frio, calor, brisas, música… E descobri ainda, não sem um arrepio, que ele não era apenas limoeiro, árvore; era também todo o mistério que existe dentro das coisas; o mistério da permanente impossibilidade de compreender-me… mas aberto às perguntas…a todas as perguntas e sonhos!
Escrevi a Nicolás dando-lhe conta do meu limoeiro cego (sem limões), coberto de pragas, porém sempre com folhas verdes perfumadíssimas… Essa carta Nicolás publicou-a em 2010 no seu livro “Palabra de Cuentero” com o título de “árbol(a)”. Nesse livro conheci a história de Michel, homem pequeno e robusto que um dia, em Corvées-les-Yys, pequena aldeia na Região Centro de França, convidara Nicolás para contar histórias em sua casa e lhe pagara como antigamente se pagava aos contadores de histórias, não com dinheiro, mas com “vino, queso, jamón, con esos pasteles de carne que llamam terrines, con pan y con conservas”.
Quando no início deste ano lectivo regressei à escola para recomeçar o meu trabalho, não conhecia ainda a maior parte dos alunos que me tinham sido destinados, as dores, as angústias e as alegrias que haveriam de vir; não conhecia também a maioria das professoras e professores com quem teria de relacionar-me, conviver e trabalhar, mas tinha a certeza de que não podia deixar de ser aquilo em que me tornara. Viver, educar, ensinar contando histórias, era agora a minha estratégia primeira, preferida e, de certa forma, obrigatória.
Certo dia decidi traduzir a história de Michel, “antes”; numa segunda-feira levei-a para a escola, sentei-me frente aos alunos, tirei os sapatos e as meias e li-a enquanto eles, numa folha de papel branca A4 anotavam alguns dos seus matinais pensamentos, palavras, perguntas, esboçavam incompletos desenhos. Resolvi fazer o mesmo em todas as minhas turmas. Depois passei a limpo todas as perguntas, dúvidas, sementes de histórias que os alunos deixaram nas folhas brancas, traduzi em palavras o conteúdo dos seus pequenos desenhos e enviei tudo para a casa de Nicolás em Paris. Imagino a surpresa do contador de histórias, Nicolás, vendo-se inesperadamente a braços com tantos papéis, desenhos, sementes de histórias, perguntas e dúvidas. O mais interessante foi, talvez, ver como as suas histórias davam origem a novas histórias, antigos sonhos gerando novos sonhos, o limoeiro cada vez mais apto como contador de histórias… Nicolás escreveu aos meus alunos via e-mail uma grande carta – 6 páginas A4 - na qual respondia a perguntas, fazia comentários, analisava os desenhos, sugeria ideias, caminhos, sinais…
Comecei a pensar, ou a sonhar, num encontro com Nicolás na minha escola, possibilitar um contacto mais estreito entre o contador de histórias e os meus alunos. Havia que arriscar, não pensar muito nas dificuldades em pôr de pé esta iniciativa, deixar as coisas em poder do mistério, ele que resolvesse, tornasse viável o sonho. Seria necessário pagar a viagem ao contador de histórias, a estadia e o trabalho. Todo o trabalhador merece o seu salário! Ainda agora, sempre que penso nisto, descubro-me mentalmente a dizer: se não puder de outra modo, pago do meu bolso a viagem e a estadia, e os alunos, tal como fizera Michel, retribuem com pão, vinho, presuntos, queijos, compotas e…O sonho comanda a vida. A fantasia abre caminhos inesperados.
Sem medir as consequências convidei-o. Ele disse que sim. Depois foi o trabalho de pedir ajuda. A Casa da América Latina aderiu imediatamente a este projecto. Obrigado Maria Xavier, obrigado Diana. Depois foi a vez da Rita Alves pedir também um encontro com Nicolás no seu instituto (Instituto Piaget). Só não foi possível aceitar o pedido de Pedro Lopes… Pedro, contaremos contigo num próximo evento! Costumamos ouvir dizer por aí que o pouco repartido por todos apenas nos enriquece…
Talvez possamos continuar a alimentar este sonho, depois de 7, 8, e 9 de Junho, juntando algumas histórias em livro e publicando-as! Deixemos tudo por conta do mistério escondido em tudo, ele que resolva.

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